
Fotos: Beto Albert (Diário)
Uma espiada na tela de tempos em tempos, mensagens chegando, imagens atrativas nas redes sociais e sempre uma nova fase de algum jogo para ser desbloqueada são, sem dúvida, cenários comuns para muitos alunos, mas não durante as aulas. Já são três meses que a lei nº 15.100 foi implementada e, desde então, o acesso a aparelhos eletrônicos no ambiente escolar está restrito.
Nesta semana, de segunda (19) a quarta (21), o Diário percorreu seis escolas – estaduais, municipais e privadas – para acompanhar a aplicação e as adaptações da lei nas unidades educacionais.
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Desafiadora. É como a empresária Jamila Amaral, 45 anos, define a tarefa de controlar o uso do celular pela filha Antônia Amaral Castagna, 9 anos, estudante da Escola Estadual de Ensino Fundamental (Emef) Marieta D'Ambrósio. Isso virou uma preocupação, e ter a restrição durante a escola contribui e muito, acredita a mãe:

– Os pais adoraram, porque já é uma luta fazer com que essa galerinha saia da frente das telas em casa. E no colégio, quando veio essa decisão, a gente adorou. Afinal de contas, a escola é um ambiente das crianças estudarem, prestarem atenção, se relacionarem com os colegas. Eles começaram a interagir mais, a brincar, a trazer outros tipos de brincadeira para o intervalo. Mesmo em sala de aula, alguns puxavam o seu celularzinho para dar uma olhada, agora não tem mais isso.
O uso do celular após a lei
- Cada escola adotou uma dinâmica
- No início do ano letivo, a indicação da Secretaria de Educação do Estado e do município era que cada escola poderia aplicar suas regras
- A maioria das escolas solicita que guardem os aparelhos nas mochilas ou deixem em caixas
- Algumas pedem que nem leve o aparelho
- A maioria não libera o uso no intervalo
- Todas já percebem melhora na concentração e aprendizagem dos alunos
- Os alunos podem ir até a direção para entrar em contato com os pais. E vice-versa
- Das seis escolas, houve pelo menos três eventos em que os celulares foram confiscados por uso em sala
Veja mais sobre as práticas de cada escola aqui.
Menos tela e mais interação social
Xadrez, vôlei, futebol, leitura, jogos de cartas. A lista é grande e recente para alunos que antes usavam o celular no intervalo, e com a lei, passaram a praticar outras atividades. Conforme a Secretaria Municipal de Educação (Smed), o setor pedagógico da rede aponta que, na hora do recreio, os estudantes interagem mais entre si e se envolvem com conversas, jogos, brincadeiras e esportes.

Na rede estadual, há o mesmo relato. No caso do Colégio Estadual Manoel Ribas, no Centro, o intervalo tem mais 'vida' e barulho, descreve a vice-diretora da manhã, Lucas José de Souza:
– Primeira ação que fizemos foi liberar bolas para praticassem esportes. Agora, temos o Grêmio Estudantil em processo de eleição. Quando esse processo ser finalizado, eles também devem apresentar propostas como a música, intervenções artísticas e culturais, que vão ajudar a suprir essa atenção que antes tínhamos no celular e que, agora, não tem mais.
No pátio e corredores do Colégio Nossa Senhora de Fátima, no Bairro Nossa Senhora de Fátima, os alunos passaram a diversificar suas atividades, explica a aluna do 1º ano do Ensino Médio Giovanna Karkow, 15 anos:

– No início, foi muito estranho porque a gente ficava sentado na mesa e não fazia nada. Com o tempo, foi nos dado o vôlei, futsal, futebol. Hoje em dia, a gente chega, pega a bola e todo mundo joga junto, todo mundo interage com todo mundo. Então é um recreio bem divertido. Xadrez e carteado, foram surgindo também. E na sala de aula não tem muito aquela coisa de pegar o telefone. O pessoal faz mais pergunta, a gente presta mais atenção nos detalhes.
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Aprendizagem e concentração
Cuidado com a exposição de telas, alertam órgãos como a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), que observam a concentração, aprendizagem, desenvolvimento motor, social e, de maneira geral, físico e cognitivo. Se antes era a televisão, hoje, se ampliou para múltiplos eletrônicos ainda na infância.
Na turma de 5º ano da Emef São João Batista, na Vila Brenner, poucos alunos vão com celular para aula. Logo, a adaptação na escola foi mais tranquila, mas não significa que os alunos não sentem a diferença.
Em uníssono, a turma com média de 10 anos descreveu que o período na escola representa o maior tempo sem o celular, e a aula favorita seria aquela com o uso do laboratório de informática.

A adaptação passa pelos mais novos e afeta também as turmas de Ensino Médio. Tanto para as escolas públicas, quanto privadas, a perspectiva era de uma difícil adaptação. Mas para a surpresa da gestão, as normas foram bem aceitas e estão sendo seguidas. E os benefícios já foram observados neste primeiro trimestre. As seis escolas ouvidas pela reportagem apontaram salas de aula mais concentradas. Ainda que as secretarias de educação e escolas privadas indiquem que os dados sobre o desempenho das avaliações ainda não estão disponíveis, logo, a análise comparativa não é viável por enquanto.

– Ano passado, em algumas aulas, a gente dava uma mexida. Olhava rapidamente o Instagram. E sempre deixava o celular no estojo, em cima da mesa. Mas esse ano, deixo na minha mochila. As vezes dou uma olhada no horário. E no recreio, usamos. Mas eu acho que isso ajudou muito para a gente ser mais mais participativo na aula, prestando mais atenção – detalha Theodora Pippi Ferreira, 13 anos, aluna do 8⁰ ano do Colégio Totem Santa Maria, na BR-287. A gestão optou por liberar o uso do celular no recreio.