
Prestes a completar seis décadas de história em 2024, a EEEF João Link Sobrinho, no Bairro Itararé, deve encerrar as atividades no fim deste ano letivo. O motivo é o baixo número de alunos matriculados na instituição atualmente: são apenas 37 estudantes, do 3º ao 9ª ano do ensino fundamental.
O coordenador pedagógico da escola, Lucas Dias, conta que faz alguns meses que a equipe da escola estadual ouve falar sobre a possibilidade de fechamento da instituição:
– O coordenador [da 8ª Coordenadoria Regional de Educação] falou com o diretor algumas vezes. Não houve documento oficial, mas agora no fim de novembro foi feita uma reunião informando do fechamento e que os professores poderiam escolher para quais outras escolas seriam encaminhados. Para nós, é importante que possa permanecer aberta, porque tem toda uma história, como eu disse para o coordenador. Gerações de famílias já passaram por aqui e nós queremos dar continuidade a isso.
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José Luis Viera Eggres, coordenador da 8ª Coordenadoria Regional de Educação (8ª CRE), esclareceu que não se trata de um fechamento puro e simples, uma vez que está sendo feita gestão das matrículas - da rede municipal e da rede estadual - para melhor distribuir e ocupar espaços das escolas de forma mais adequada. Eggres informou que há três escolas próximas na região com capacidade para receber os estudantes da João Link Sobrinho:
– Nós estamos fazendo o gerenciamento da rede, otimizando as vagas que temos. Naquela região de Santa Maria nós temos quatro escolas. A Escola Walter Jobim, por exemplo, tem capacidade para atender 600 alunos e tem 288 inscritos hoje. A João Link funciona no turno da tarde com toda uma estrutura para apenas 12 alunos. É uma questão de gerenciamento e responsabilidade da gestão e com o gasto do dinheiro, que é do cidadão.

O coordenador confirma que os sete professores efetivos que lecionam na EEEF João Link Sobrinho serão redistribuídos na rede e terão seus pedidos de escolas que desejam atuar atendidos. Ele conta que a educadora especial da escola, por exemplo, tem 20 horas no João Link e 20 horas na Walter Jobim. Logo, ela passará a atender as 40 horas na última.
Sobre a possibilidade de uma gestão compartilhada com o município e a abertura de turmas de 1º e 2º ano (que atualmente não estão disponíveis), questões levantadas pela gestão da escola, Eggres explica que é inviável porque, de fato, há poucos alunos para preencher essas turmas, e existem 13 escolas do Estado próximas que podem recebê-los. Ele também falou sobre a destinação do prédio.
– Provavelmente iremos passar a edificação para o município. Já se estuda a possibilidade de ser instalado ali um centro de atendimento em saúde para os profissionais da educação de Santa Maria. Então o prédio vai continuar tendo um significado para a educação e prestando serviço à população contribuinte de Santa Maria – finaliza o coordenador José Luis Viera Eggres.

MOBILIZAÇÃO
A venezuelana Mariana Brown Govallo, de 32 anos, veio com os quatro filhos para o Brasil, em busca de melhores condições de vida, há quase cinco anos. Desde que se estabeleceu a poucos metros da João Link Sobrinho, todos os filhos estudaram ou estudam na escola. Ela está entre os pais que pressionam para que a escola permaneça de portas abertas. Um abaixo-assinado está em andamento.
Para Ángel de Jesus Brown, o filho de Mariana de 14 anos, estudante do 7º ano, seria difícil se acostumar com outra escola. Ele é um dos 9 alunos da João Link Sobrinho que precisa de atendimento especial, pois tem artrogripose múltipla, deficiência que impede o movimento das articulações.
Como ele precisa escrever com a boca, uma mesa adaptada foi adquirida para Angel na escola. O venezuelano tem confiança de que o movimento pela permanência da escola funcionando dará certo.
– É muito bom lá. Além da professora Carol [educadora especial], todos me ajudam muito, eu faço as tarefas de maneira mais calma. Talvez não tenha muitos alunos, mas lá eu tenho amigos e é isso que importa – diz o estudante.
Mariana destaca que a escola ajudou na independência dos filhos:
– Minha preocupação é que o Ángel não tenha a atenção e cuidado que ele tem ali em outra escola. Sei que, devido à deficiência, ele teria direito a transporte para outra escola. Mas eu cuido de uma paciente oncológica e eu temo não estar em casa sempre para ajudá-lo nesse momento do transporte, por exemplo.

O assunto também já foi tema de reunião ordinária da Comissão de Educação, Cultura, Esporte e Lazer da Câmara de Vereadores no fim de novembro. A vereadora Helen Cabral (PT) relatou que levou o assunto à Comissão para que o colegiado possa intermediar entre a 8ª CRE e a comunidade, para que o fechamento da escola não seja efetivado.
Conforme a assessoria da vereadora, uma reunião estava marcada para esta sexta-feira (15) com a Promotora de Justiça Rosângela Corrêa, na Promotoria Regional de Educação, para continuar tratando sobre o assunto.