Avante, Livres, Podemos, Inovar, Muda Brasil. Não estranhe se, em alguma propaganda partidária na TV, aparecerem personagens conhecidos da política nacional falando nesses nomes e apresentando propostas para 2018. São agremiações partidárias que começam a surgir com nova roupagem numa tentativa de evitar o desgaste ético e moral que atinge a política brasileira.
Até mesmo siglas tradicionais, como PMDB, PP e DEM, deverão dar lugar a novas denominações. Nessa onda de "rebatização", a palavra partido perde força. A maior agremiação brasileira, o PMDB, é uma das que decidiu mudar de nome. Vai tirar o P de partido e voltar a ser apenas Movimento Democrático Brasileiro (MDB), em referência à única sigla de oposição aceita pelo regime militar (1964-1985), que deu origem ao PMDB em 1980.
O Partido Progressista (PP), originário da antiga Aliança Renovadora Nacional (Arena), a outra legenda permitida pelo regime militar, também encaminha mudança. Ainda não se sabe se a nova denominação será Progressista ou Progressistas. O PP teve outros nomes: PDS, PPR e PPB.
O Democratas (DEM), que substituiu o PFL (Partido da Frente Liberal) foi pioneiro na retirada da palavra partido, em 2007. Depois surgiram a Rede Sustentabilidade e o Solidariedade. A nova onda ganhou força este ano como efeito da Lava-Jato sobre as organizações partidárias.
As mais "novas" agremiações são Avante (Partido Trabalhista do Brasil – PT do B), Podemos (Partido Trabalhista Nacional – PTN), Livres (Partido Social Liberal), Patriota (Partido Ecológico Nacional) e Democracia Cristã (Partido Social Democrata Cristão). Com exceção do PEN, todas as outras siglas tiveram registro na Justiça Eleitoral de Santa Maria.
Mudam só os nomes, dizem especialistas
Cientistas políticos e um publicitário avaliam que as mudanças não devem ter impacto para o eleitor e nem se refletir em grande mudanças dentro das próprias siglas partidárias. Trata-se mais de uma maquiagem do que uma mudança de conteúdo.
Para o professor de Teoria Social da Universidade do Pampa (Unipampa) Guilherme Howes, há uma tendência internacional de maquiagem das agremiações tradicionais para que pareçam novas.
– Mesmo tirando a palavra partido, eles continuam sendo partidos. Essa tendência chega tardiamente no Brasil. Nos anos 80, após a redemocratização, houve um movimento de partidarização e os partidos queriam se reafirmar enquanto partido. Agora fazem o inverso, parece que estão se despartidarizando – avalia Howes.
Professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Reginaldo Perez também afirma que o mundo político faz uma tentativa de resgate de imagens desgastadas.
– Os principais partidos estão sendo golfados por essa tempestade que atingiu quase todos. Mas é uma repaginação, uma mudança de forma. Não vejo nenhuma tentativa de mudança de conteúdo. Talvez pegue, mas não sei se vai adiantar. Nossa tradição é de voto no nome – observa o cientista político da UFSM.
– A mudança de nome não tem resultado prático para a sociedade, mas internamente pode ser interessante e talvez funcione. Há muitas siglas usando verbos, o que coloca ação e tira a carranca de partido. Mas não acredito que algum partido vá se destacar pela troca de nome. A eleição de 2018 será um teste – diz Beto Oliveira, publicitário que desde 1992 trabalha em campanhas eleitorais (em Santa Maria foram 7 campanhas para prefeito).
O QUE DIZEM OS REPRESENTANTES DE PARTIDOS
"Na verdade, MDB ou PMDB é o que menos importa. Temos é que buscar nossas raízes, a essência do antigo MDB. Já recebi orientação para não confeccionar material, porque o partido vai mudar de nome e de logomarca."
Magali Marques da Rocha, presidente do PMDB, que voltará a ser MDB
"O que importa é que a ideologia do partido permaneça. E permanecendo a palavra progressista não vai implicar em diferença maior. Essa palavra é muito significativa e deve ser mantida."
Sandra Rebelato, presidente do PP, que deve virar Progressista ou Progressistas
"Mudamos para Democratas naquela onda do Democratas americano. Mas a mudança de PFL para DEM não foi boa, perdemos uma sigla consolidada. Mas depois, o PT passou a nos chamar de ‘demo’ (em referência a demônio)."
Nelson Cauzzo, presidente do DEM, sigla que estuda adotar a denominação Centro ou Mude (Movimento de Unidade Democrática)