Opinião

Parcelamento nos salários: o barril de pólvora estourou. E agora?

Deni Zolin

O governador Sartori tem parte da culpa por ter deixado o barril de pólvora estourar, com o dramático atraso no pagamento dos salários dos servidores estaduais, no agora histórico 31 de julho de 2015. Não pode reclamar, pois ele aceitou segurar esse rojão prestes a explodir, que nasceu décadas atrás e foi se enchendo de pólvora governo após governo. E Sartori não teve a habilidade de impedir a explosão. Para piorar, com o apoio dos deputados, aumentou os próprios salários e de outros políticos.

Nos últimos 40 anos, o Estado gastou mais do que arrecadou em 33 anos. Não há cofre público que suporte tudo isso. Várias coisas foram colocando mais pólvora nesse barril e nunca foram estancadas: sonegação fiscal, falta de pagamento de impostos por empresas e contribuintes (são R$ 36 bilhões que o Estado teria a receber), má gestão, gastos desenfreados e mal aplicados, desvios de recursos, excesso de CCs, salários exorbitantes e bem acima do teto de R$ 33,7 mil que parte dos servidores estaduais recebe (embolsando bem mais do que a lei permite), auxílios-moradia e benefícios imorais, aposentadorias precoces de servidores, pagamentos de juros altos da dívida do Estado e a divisão desigual do bolo dos impostos, com 70% dos valores ficando com o governo federal.

Todo esse dinheiro indo pelo ralo sempre faltou para saúde, educação e segurança, deixando a população com serviços precários. E agora faltou dinheiro também para os servidores, o que vai gerar um calote em cascata, pois eles deixarão de pagar contas e de comprar, agravando a crise econômica.

A crise na economia, a queda na arrecadação em todo o país e o não de Dilma à redução dos juros da dívida dos Estados foram o estopim para o barril explodir. É lamentável e muito preocupante chegarmos a esse ponto de o Estado ter de parcelar (atrasar) o pagamento dos salários. A situação é tão grave que, além de só pagar R$ 2,1 mil agora, devem vir apenas mais R$ 1 mil em 13 de agosto e o restante será pago até 25 de agosto. As grandes dúvidas que ficam: mas que dinheiro vai sobrar para pagar os salários do mês seguinte, em 30 de agosto? Será que Sartori não poderia priorizar o pagamento dos salários e deixar de pagar as dívidas do Estado?

Pelo jeito, chegará ao ponto em que isso vai ocorrer, mesmo sob o risco de o Estado ter bloqueada a vinda de verbas federais. Esse caos vai obrigar o Estado a pedir socorro à União, que também vive um ano dramático. É difícil saber quando esse drama vai acabar.


Aumento de impostos e greves

Como as reformas necessárias no passado nunca foram feitas e os governantes não tinham planos a longo prazo, algumas medidas emergenciais terão de ser feitas no atropelo, na marra. Diante desse cenário complicadíssimo, como os deputados vão dizer não para o aumento do ICMS, que deve ser apresentado pelo governo na próxima sexta-feira e pode valer em 2016? O pacote deve incluir ainda mudanças justas na previdência dos servidores, o que é necessário, mas isso só terá impactos bem no futuro.

A gritaria dos servidores é geral, e greves e paralisações anunciadas para segunda-feira estão brotando. Mas adiantarão de algo, se não há recursos? Não sei. Mas talvez ajudem a aumentar o caos e obrigar o governo Dilma a socorrer o Estado.
Há tantos problemas a serem resolvidos para reverter essa situação, mas talvez esse caos seja o remédio amargo e necessário para corrigir alguns problemas e resgatar o Estado do fundo do poço. Vamos torcer ainda para que a economia se recupere, retomando a arrecadação para o Estado ter dinheiro e pagar os salários. Afinal, apesar da situação grave e de a luz no fim do túnel estar fraca, não podemos entregar os pontos.

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