A produção de artigos em lã que iniciou como um hobby serviu para unir a família e, ainda, incrementar a renda. Foi por meio da busca por uma ocupação depois da aposentadoria que a ex-funcionária pública Márcia Bernardes, 56 anos, e o marido Régis Bernardes, 56, encontraram no trabalho com lã uma atividade.
A criação de ovinos na propriedade rural da família, em São Martinho da Serra, tinha a finalidade apenas de venda dos animais para abate. Foi então que surgiu a ideia de aproveitar a lã, que era descartada, para confecção de produtos como xergão, ruana (espécie de pala feminino aberto), palas, golas, coletes e pelegos para montaria e uso decorativo. Além disso, há a produção de rédeas a partir da lã e a venda do fio artesanal disposto em novelos.
- É um hobby que gera renda, e ao mesmo tempo mantém a família unida, já que todos se interessaram em participar da produção - destaca Márcia, que fez cursos para aprender o processo de utilização do material.
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Como o marido, os filhos Guilherme e Matheus, e a nora Amanda Tatsch, são da área da Zootecnia e aos poucos a criação das ovelhas foi sendo aperfeiçoada para maior rentabilidade, não só em carne, como já era praticada, mas também em lã.
- Inicialmente, na propriedade, a criação de ovinos, principalmente da raça sufollk, era para consumo próprio e venda. Hoje, investimos também em raças como a texel e corriedale, que têm um melhor aproveitamento em lã, e proporcionam melhor qualidade aos nossos produtos - relata Matheus Bernardes, 21 anos.
Amanda, nora de Márcia, é quem faz o marketing dos produtos na internet e também ajuda nas vendas e confecção de alguns produtos.
- A gente aproveita o tempo vago para produzir. Enquanto estou olhando TV, vou tecendo os fios no tear de pregos. O método é simples e, depois que pega o jeito, rende bastante - diz ela.
COMERCIALIZAÇÃO
Hoje, todos os produtos levam a marca Fazenda do Rancho e são comercializados principalmente pela internet e em feiras agropecuárias. Além disso, os novelos de lã são destinados para lojas especializadas, em Santa Maria e Gramado. Na cidade, apenas uma loja vende os novelos produzidos. O proprietário do local, Daniel Antonio Gorski Pereira, apostou no produto há cerca de três meses e diz que percebe uma boa aceitação.
- É um produto natural, 100% lã. É um pouco mais cara do que a lã normal, mas quem conhece compra, pois sabe que ela rende mais e os trabalhos ficam mais bonitos. Há casos de cliente que não conhecia, levou para experimentar e agora não deixa de comprar - destaca o proprietário da loja.
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Os pelegos são tratados para que possam ser vendidos para decoração ou uso na montaria. No entanto, a venda é feita para clientes de fora do Estado.
- Muita gente não entende o trabalho que dá para deixar o pelego em condições de uso e acha caro pagar R$ 300 num pelego preto, que é diferenciado, por exemplo. Falta valorização. Daí acabamos vendendo para clientes do Paraná e outros estados - desabafa Matheus.
EM FAMÍLIA
Xergões, ruanas, palas, golas, coletes, toucas, gorros, pelegos para montaria e uso decorativo, assentos para bancos e puffs, rédeas e fio de lã integram a linha de produção da família Bernardes. Todas as peças têm confecção artesanal. A lã retirada das ovelhas da propriedade vai para uma cooperativa de onde retorna tratada pronta para a confecção das peças. A partir daí, é feito o tingimento de forma artesanal na lã crua que ganha diferentes tons.
O detalhe é que apenas os processos iniciais são feitos na propriedade. A finalização ocorre no apartamento da família, em Santa Maria.
- É aqui que a maioria dos produtos ganha forma. Na roca elétrica, a lã crua ganha forma de fio. No tear, as ruanas são tramadas, como a confecção das rédeas e arreios - conta Márcia.
Segundo ela, os filhos Matheus e Guilherme atuam na confecção dos fios de lã mais grossos, para xergão e rédeas, bem como nas vendas. A nora Lícia Cogo, que é fisioterapeuta, também ajuda na produção e nas vendas.Os seus pais, Antoninho e Zaira Meneguello, são responsáveis pelos novelos de lã e rotulação. Régis é quem confecciona os xergões.
- A lã nos uniu mais ainda e todos gostam do que fazem. Além disso, o rendimento, que a gente não esperava, é ótimo - comemora a artesã.