
Em 25 anos desde a reabertura do Theatro Treze de Maio, existem personagens que, apesar de raramente subirem ao palco para estar sob os holofotes, controlados pelo técnico de luz José Luís Pinheiro Viana, são os protagonistas desse roteiro que voltou a existir há um quarto de século em Santa Maria.
O novo capítulo da história do Treze de Maio começou em 1997, quando, em 26 de maio, o teatro foi reinaugurado. Mas, antes disso, foi necessária uma grande movimentação em torno da criação de uma entidade sem fins lucrativos: a Associação dos Amigos do Theatro Treze de Maio, fundada em 1993, então presidida por José Antônio Goi.
Na época, o grupo contou com o apoio do poder público, representado pelo então prefeito de Santa Maria, José Haidar Farret, e que tinha o suporte da jornalista Maristela Moura como secretária de Cultura e da produtora cultural Maria Aparecida Herok, a Cida. Após os anos iniciais, dedicados aos trâmites burocráticos, em 1995, Ailo Valmir Saccol e Ruth Péreyron assumiram os cargos de presidente e vice-presidente da associação. A partir daí, começou uma campanha que durou 18 meses para a reinauguração do espaço cultural.
Desde então, centenas de pessoas passaram pelo teatro, seja como espectador ou como trabalhador.
O técnico mais antigo da casa

No final da década de 1990, José Luiz Pinheiro Vieira era estudante do curso de Artes Cênicas na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). No início da graduação, conheceu o Caixa Preta e se encanou pelas técnicas de iluminação das peças de teatro. Anos depois, uma professora contou que havia uma novidade na cidade, o Theatro Treze de Maio, que precisava de funcionários para montar uma equipe capaz de operar o que fosse necessário para as apresentações. Assim, o estudante entrou em contato com a produtora cultural Cida Herok, participou de uma seleção e aguardou o resultado.
– Durante os dias de espera, batia um sentimento de insegurança. E fiquei muito feliz quando me chamaram. Desde então, são 25 anos de trabalho no Theatro Treze de Maio. Além da minha casa, esse é o outro lugar que eu ouso chamar de lar – conta José.
O especialista em iluminação é o responsável pelos holofotes que destacam os artistas que sobem ao palco do Treze de Maio. Durante as mais de duas décadas de atuação, José destaca que cada montagem é única e depende das necessidades de cada grupo. Ou seja, a iluminação projetada no palco é inédita a cada novo espetáculo. E algumas são mais desafiadoras que outras:
– Já fizemos espetáculos desafiadores como a montagem da peça Macbeth. A apresentação teve cenas de pessoas suspensas em cabos de aço, assim, a iluminação não poderia ser área. Além disso, as cenas foram de azul ao vermelho, que representava a morte. Foi lindo e desafiador – recorda.
Diferente da plateia, que visita o teatro em dia de espetáculo, Vieira e os colegas estão no local todos os dias. A rotina de manutenção dos equipamentos é diária. As atribuições se intensificam em dia de apresentação.
O caçula do Treze

O técnico de palco Jeferson Bastos, mais conhecido como Beto entre a equipe do teatro, é o caçula da turma. Há seis anos, ele foi convidado a integrar o quadro de funcionários como técnico de palco e entrou em um período de teste que, posteriormente, se transformou em anos de trabalho no Treze de Maio. No palco, Beto domina a arte da transformação: atenta para a cenografia, ajuda a testar áudio e vídeo e cuida para que o palco esteja nas melhores condições possíveis para cada apresentação. Assim como o colega José Vieira, o técnico de palco diz que não existem espetáculos iguais, ainda que participe da montagem da mesma apresentação:
– É comum artistas e grupos passarem pelo teatro em mais de uma oportunidade e, em quase seis anos aqui, cada montagem foi diferente. Por isso que é divertido trabalhar com cultura.
Mesmo que fique na coxia, preparado para o que for necessário, Beto é um dos protagonistas da história do Treze.
Cuidado com o local e com as pessoas


Se o Theatro Treze de Maio exibe uma bela estrutura e um ambiente aconchegante é porque existem duas pessoas que trabalham diariamente para mantê-lo assim para receber as visitas.
Cintia dos Santos Almeida (à esq.) chegou ao teatro como funcionária temporária, ela trabalharia durante 15 dias para substituir uma colega. No final no último dia, José Luiz perguntou se ela tinha gostado de trabalhar no local. Sem pensar duas vezes, Cintia respondeu que sim e, há 10 anos, faz parte da equipe.
– Não me vejo trabalhando em outro local. E sei que preciso estar aqui todos os dias porque o trabalho que faço ajuda a manter o teatro limpo, cheiroso e agradável para todos. Também é gratificante saber que contribuo para a qualidade do Treze de Maio – comemora Cintia.
Já a camareira Renilda Rubleski Ziquinatti, uma das mais antigas funcionárias ao lado de José, começou a história dela no teatro a partir de uma irmã, que conhecia Ruth Pereyron. Ela participou da seleção e foi chamada. Desde então, marcou e foi marcada pelo Theatro Treze.
– Aqui, temos contatos com pessoas incríveis que nunca imaginamos conhecer. Já atendi artistas como Tony Ramos, Jorge Dória e Eva Wilma, que brilharam no palco. Além disso, a família que faz o teatro ser a referência que é, também é muito maravilhosa – ressalta.
Da porta ao alto falantes



Há 24 anos, o porteiro Fernando Antunes Dohler é o primeiro a chegar no teatro e, assim como a diretora Ruth Pereyron, é um dos últimos a sair. Quase como um guardião das chaves, Fernando é o responsável por abrir e fechar as portas do Theatro Treze de Maio.
Apesar do bom humor e da alegria contagiante, Fernando muda o semblante quando lembra de um período de incertezas vivido recentemente.
– Na pandemia, eu chegava, abria as portas para o pessoal que fazia as lives e, quando terminava, fechava tudo e ia embora. Não sentia a emoção de um dia de casa cheia, não ouvia os aplausos, já que não tinha público e me mantinha afastado de qualquer pessoa que também estava no teatro. Mas conseguimos vencer e, em 2022, voltamos a ver a casa cheia como nos dias de Feira do Livro – comemora Fernando.
Já a história de Luiz, começou 11 anos mais tarde, quando procurava um emprego de seis horas diárias, já que precisava de um turno para cuidar da filha. Ele é o responsável pela bilheteria do teatro e durante os anos de trabalho já lidou com milhares de pessoas.
– Aqui, nem um dia costumava ser igual ao outro. Sempre tinha coisas novas para conhecer e tarefas a executar. Mas na pandemia tudo foi diferente, e foi difícil lidar com a ausência do público.
Mas o que impera na memória são os momentos felizes e as histórias engraçadas que a equipe divide.
Além de Fernando e Luiz, outro personagem valioso para o teatro é o de Oldair Cavalcanti Freire, o Guingo, que executa com maestria a função de técnico de som. Apaixonado por música, Guingo é detalhista e cuida para que o sonorização, tanto em shows quanto em espetáculos teatrais, seja reverberado da melhor forma possível. Em maio, Guingo subiu ao palco para ser a estrela:
– Escrevemos a história da cultura de Santa Maria. E já apresentei um show de música instrumental jazz rock, onde eu pude sentir a magia do palco cultura.
Comunicar a arte


O Theatro Treze de Maio é referência em cultura em Santa Maria. E foi preciso muito trabalho para alcançar esse status. Em 1998, a relações públicas Ana Lúcia Silva começou a trabalhar com comunicação e cultura ao lado da produtora cultural Cida Herok, responsável pela Cida Cultural. Anos depois, em 2003, criou uma produtora e se afastou do Treze de Maio, embora nunca tenha perdido o vínculo. O retorno ocorreu em 2009.
– Minha história com o teatro é de idas e vindas. Mas embora tenha tomado outros rumos profissionais, nunca fiquei longe da casa. Com a produtora, trazia artistas para o palco do teatro, me envolvia em projetos, enfim. Fico orgulhosa em pensar que, daqui há muitos anos, quando eu não estiver mais aqui e outros personagens protagonizarem novos capítulos do Treze, vou deixar um legado cultural – emociona-se Ana.
À frente da assessoria de comunicação do Theatro Treze de Maio, o relações públicas Sérgio Marques começou a trabalhar no local em 2009, quando se voluntariou para fazer parte da equipe. Depois, tornou-se estagiário e, agora, é o principal mediador entre o Treze e a sociedade:
– Trabalhar com cultura em Santa Maria é um privilégio. Nesses anos, centenas de artistas passaram pelo palco e, inclusive, nos ajudaram na pandemia com as campanhas e lives que fizemos. Não podemos deixar de referenciar a saudosa Deborah Rosa, um dos pilares da cultural do teatro.
A diretoria

Além de uma equipe incrível, o Theatro Treze de Maio tem uma diretoria composta por 12 pessoas que são fundamentais para a manutenção das necessidades do local. A Associação dos Amigos do Theatro Treze de Maio foi fundada em 1993 como uma sociedade civil de finalidade cultural, sem fins lucrativos e com personalidade jurídica. Resultou da mobilização voluntária de diferentes agentes da comunidade, com o desejo de materializar o plano de ressurgimento do teatro da cidade.
De acordo com Ney Pippi, que está ao lado da associação desde a criação, o aniversário é especial:
– De uma forma ou de outra, estive presente em todas as gestões da diretoria. É um misto de orgulho e satisfação fazer parte de toda essa história. E, ao lado dos colegas, oferecer à comunidade e à região um teatro nessas condições impecáveis.
Também apaixonada pela organização, a presidente da Associação dos Amigos do Theatro Treze de Maio, Loeci Procati, lembra, com carinho, de uma grande personalidade da cultura do Rio Grande do Sul, que amadrinhou o Theatro Treze de Maio: a presidente da Fundação Theatro São Pedro, Eva Sopher, mãe da diretora do Theatro Treze de Maio, Ruth Péreyron.
– Há 10 anos, comemoramos o aniversário de 15 do Theatro Treze de Maio e, durante a cerimônia, uma porta se abriu e entrou a dona Eva. Foi uma emoção imensurável. Agora, comemoramos os 25 pensando nela, na Deborah, e em centenas de artistas que, de longe ou de perto, são protagonistas dessa história – ressalta.
Dona Ruth, grande entusiasta da arte local e do teatro, é considerada pelos colegas como “a alma do Treze” e a fonte de inspiração e de dedicação dessa turma.
– Para o dia 26 de maio, data da reabertura, a Orquestra Sinfônica de Santa Maria vai oferecer à cidade um belo presente – adianta a diretora, sobre a programação da próxima quinta-feira.