
Foto: Diego Fadeuille/Divulgação

Imagine sair de um lugar, com o termômetro marcando 50°C e desembarcar em outro a 0°C. Essa foi a realidade que Diego Fadeuille, 30 anos, enfrentou esta semana, quando saiu de Dubai para Santa Maria.
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– Eu até gosto e tinha um pouco de saudade do frio, mas eu não lembrava que era assim – relata o fisioterapeuta gaúcho, que saiu dos Emirados Árabes Unidos, onde trabalha, para revisitar a cidade em que se formou pela Universidade Franciscana (UFN).
Diego passou pela Chapecoense e pelo futebol português, antes de aceitar o desafio de integrar a equipe de saúde da seleção nacional dos Emirados Árabes Unidos. Ao Diário, ele contou um pouco sobre suas experiências e objetivos na fisioterapia esportiva.
A trajetória
Natural de Santana do Livramento, Diego chegou a Santa Maria para estudar. A primeira ideia era cursar medicina. Prestou vestibular em 2012 na Universidade Federal de Santa Maria e chegou próximo ao ponto de corte.
– Na época não tinha medicina na UFN, então me matriculei em fisioterapia. Pensei “faço um pouco e depois peço transferência”. Mas tive a sorte de ter excelentes professores, tanto na parte geral como na esportiva. Dava gosto de entender realmente o que era a fisioterapia – relata Diego.
Depois de se formar em 2016, o fisioterapeuta chegou no ano seguinte a Chapecó (SC) para trabalhar no time da cidade, onde ficou por mais de dois anos, até chegar uma proposta para trabalhar no futebol português.
Um ano depois de se mudar para a Europa, entretanto, retornou ao Brasil no auge da pandemia de Covid-19, em 2020. Sem jogos e com muitas incertezas, Diego passou a prestar consultorias para clubes e atletas. Nesse momento, esteve em contato com o Erik, lateral-esquerdo do Al Ain, principal clube dos Emirados Árabes Unidos.
Com a pandemia controlada e a abertura do país do Oriente Médio, Diego viajou para realizar tratamento com o atleta presencialmente. Foi convidado a permanecer, mas outra oportunidade bateu a porta: novamente a Chapecoense.
Entre 2022 e 2023, Diego chefiou o departamento de fisioterapia do clube do oeste catarinense na disputa do campeonato estadual e da segunda divisão nacional. Até que no começo de 2024 recebeu e aceitou o convite para participar da equipe médica da seleção dos Emirados Árabes Unidos.

O trabalho em uma seleção
Segundo Diego, o trabalho em um clube e em uma seleção nacional é completamente diferente. Do contato diário com os jogadores no clube, o fisioterapeuta precisou se adaptar ao ritmo do futebol internacional.
– O modus operandi é diferente. No clube pouco se perde informação. Na seleção, não temos um enorme banco de dados do atleta. Quando não há convocação, acompanhamos os jogos, conversamos com os clubes, procuramos relatórios para pelo menos ter um conhecimento maior de cada atleta. O tempo é curto para que as coisas aconteçam – conta Diego.
Em relação ao futebol brasileiro, o fisioterapeuta enxerga ainda mais diferenças profissionais.
– Na seleção se tem bastante calma. No calendário brasileiro, tem jogo quarta e domingo. Não se tem tempo para treinar, é um ciclo de “joga-recupera-joga de novo”. Em uma seleção a gente se prepara, em grandes períodos, para um a três jogos.
Diego conta também que a calma descrita não é apenas em virtude do trabalho em uma seleção proporcionar um planejamento mais a longo prazo, em comparação ao exigido pelos clubes. Ele afirma que há diferenças culturais neste sentido.
– Os árabes em geral escutam muito mais. Os modelos de aplicação são diferentes e eles levam muitos profissionais estrangeiros para lá, porque a fisioterapia, como profissão, é muito nova por lá. É preciso explicar, eles precisam entender e avaliar. Estamos vendo os resultados do que começamos a implementar depois de um ano e meio. No Brasil é pegar, executar e dar certo. Se não der, não serve – explica Diego.
A vida longe do Brasil
Apesar de estar a mais de 13 mil km de distância, Diego não está tão longe assim de sua terra natal. Na última convocação, para os jogos contra Uzbequistão e Quirguistão, a seleção emiradense tinha nove jogadores brasileiros naturalizados.
Embora trabalhe diretamente com a seleção olímpica do país, Diego conhece a maioria dos jogadores do time principal e convive também com outros colegas de trabalho brasileiros que atuam na área médica do selecionado. Com os demais, ele afirma que a comunicação varia entre o inglês e o que é possível aprender do árabe.
Mas mesmo perto de outros brasileiros, o fisioterapeuta conta que algumas coisas não são as mesmas por lá, como a comida:
– Tem restaurante brasileiro? Tem. Tem comida brasileira? Tem. Mas os temperos são diferentes. Chegar aqui (no Brasil) e comer um arroz e feijão feito em casa é muito diferente – avalia Diego.
Ainda assim, o gaúcho relata, em tom bem-humorado, estar muito satisfeito com a vida que leva nos Emirados Árabes Unidos:
– No geral estamos muito felizes. O país é muito bom, muito desenvolvido e seguro. Tanto eu, como minha esposa e meus dois filhos estamos extremamente adaptados. Acho que eu sinto mais falta é de olhar e ver árvores e um pouco mais de verdade, não um monte de terra e areia.
Um sonho

Sobre aspirações em sua carreira, Diego afirma ser difícil responder, mas cita o que considera ser o grande objetivo atual na seleção emiradense:
– Depois que nos tornamos profissionais do futebol, é difícil enxergar outras formas de aplicar o teu trabalho. Então, assim como é para os atletas, o sonho máximo de todo mundo é chegar na Copa do Mundo.
Atualmente, o fisioterapeuta tem atuado principalmente com a seleção olímpica do país. Mesmo assim, mostra maturidade e apreço pelo coletivo:
– Esse é um sonho que a gente compartilha com muita gente. Por mais que, se a convocação para a Copa fosse hoje, eu não estaria lá, por conta da seleção olímpica, mas os meus colegas estariam. De certa forma, é um sonho que eu completo, ao ver as pessoas que estão comigo no dia a dia concretizarem o mesmo sonho.
Perguntado se almeja ainda atingir outros objetivos, como trabalhar em grandes clubes, na Europa ou no Brasil, Diego mantém os pés no chão:
– Hoje, posso vivenciar o dia com a seleção, trabalhar com o que gosto e dar uma boa qualidade de vida para minha família. Até que ponto eu já não estou cumprindo um sonho?