Foto: Gabriel Haesbaert / Minha Foto Em Jogo
Trabalhar com o futebol é o sonho de milhões de jovens no Brasil, que vislumbram construir uma carreira consolidada em times de destaque mundial. No entanto, algumas pessoas acabam escolhendo um outro lado desse universo esportivo, o da arbitragem. Este é o caso do santa-mariense João Mattos, 20 anos, que, recentemente, se tornou o mais jovem a atuar em uma partida de futebol profissional no Estado. Ele é visto como uma promessa na profissão e se inspira em um grande nome da cidade.
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Sonho de infância
Apaixonado por futebol desde sempre, Mattos nunca foi o mais habilidoso com a bola nos pés, fato que fez com que o interesse fosse maior pela arbitragem. Aos poucos, a ideia foi amadurecendo, até que, em 2019, aos 15 anos, resolveu realizar o curso de arbitragem da Federação Gaúcha de Futebol de Salão (FGFS), que estava sendo realizado em Santa Maria.
– Não tem um episódio específico que marcou o início do meu sonho. Foi uma ideia que eu fui amadurecendo com o passar dos anos. Eu pensava que queria estar no meio e precisava fazer parte disso. Aos poucos, fui me envolvendo mais com os jogos e pude ter certeza que é exatamente o que eu mais gosto de fazer – diz Mattos.
Muito influenciado pela família, que enxergou a possibilidade de o jovem fazer contatos e ingressar no meio esportivo, ele conseguiu participar do curso, com duração de três meses, mesmo sendo menor de idade. No entanto, após o término, teve de esperar até os 18 anos para estrear em partidas oficiais. Durante o período sem jogos, manteve o contato com profissionais da área e procurou estudar regras, além de possíveis mudanças que ocorreram nos últimos anos.
A estreia foi em maio de 2022, nas quadras de Tupanciretã, exercendo a função de anotador, profissional responsável por escrever os motivos das interrupções durante a partida. Depois de dois anos atuando na mesa, teve a primeira oportunidade como árbitro principal na Série Bronze de Futsal, no confronto entre Nova Esperança do Sul e Capão do Cipó.
Início promissor no campo
Com 17 anos (2021), João Mattos teve a oportunidade de apitar uma partida amistosa entre duas equipes veteranas da cidade. Contudo, foi no ano seguinte que pôde realizar o curso de arbitragem da Federação Gaúcha de Futebol (FGF), que teve tempo de seis meses, com aulas todos os sábados, sendo a maioria em Porto Alegre. Da mesma forma, passou a integrar a Associação Santamariense de Árbitros de Futebol (Asaf), participando de jogos do futebol amador de Santa Maria.
Em 2023, estreou no campo na partida entre Apafut, de Caxias do Sul, e Inter, válida pelo Campeonato Gaúcho sub-17, na função de auxiliar de arbitragem, a mesma que segue atuando. Desde então foram 20 jogos de base. Mas o grande momento da carreira foi a primeira partida no futebol profissional, disputada entre Passo Fundo e São José, pela Copa FGF, em 4 de setembro. Na ocasião, o santa-mariense ficou marcado como a pessoa mais jovem a atuar na arbitragem de uma partida profissional no Rio Grande do Sul.
– Quando entrei no vestiário, sentei na cadeira e comecei a tremer. Era muita emoção, saiu um caminhão das costas. Deu tudo certo, as coisas correram bem, e não tem como não lembrar de tudo que enfrentei até chegar aqui – comentou, orgulhoso.
Agora, ele espera ser relacionado para mais partidas profissionais. A grande expectativa é participar da Terceirona Gaúcha, competição que iniciou no último sábado (21) e que deve ocorrer até novembro. Apesar da idade, Mattos sabe da importância de manter a calma dentro de campo e diz que não sente a pressão por ser um dos caçulas nos jogos.
– Os jogadores sempre vão me testar, independente da minha idade. Eu preciso ter consciência disso e controlar o jogo. Não preciso ser autoritário, só preciso saber lidar com o psicológico dos atletas e com o meu também – reforçou.
Inspiração na cidade
Santa Maria se destacou nos últimos anos por contar com profissionais formados na cidade figurando entre os principais árbitros do país. Além da Asaf, a Universidade Federal de Santa Maria acaba sendo importante na formação de tais profissionais, como Maíra Mastella e Rafael Klein, que também estudaram na instituição, assim como João Mattos, que hoje está no sexto semestre de Educação Física.
Além dos dois, outros nomes são lembrados, mas para o jovem a principal inspiração é Anderson Daronco. Em 2013, João Mattos o encontrou em um restaurante e pediu um autógrafo em um guardanapo. Para a sua surpresa, o árbitro entregou a homenagem em dois cartões, um amarelo e um vermelho. Os objetos são guardados com carinho até hoje pelo estudante.
– Às vezes, eu até encontro o Daronco na academia, mas nunca tive coragem de falar com ele. Fico na dúvida sobre parar ele nessas horas, sou meio envergonhado. Mas todos dizem que ele é um cara muito engraçado – contou, rindo.