

Transcorrem os anos, mas permanecem os lugares que consagram sua história. A primeira edição do Diário de Santa Maria procurava o ponto mais central do Rio Grande do Sul. Mais uma vez, na companhia de Chico Sosa, a volta ao local que hoje está oficializado no mapa de Santa Maria, também celebra nossas duas décadas de jornalismo.
Leia a série completa dos 20 anos do Diário:
Respeito à história e insistência na boa informação


– É aqui! Estamos a 50 metros do Centro do Estado – fala com o dedo apontado Francisco Vandir de Souza, que avista no horizonte dos olhos, o Coração do Rio Grande.
Conhecido como Chico Sosa, o jornalista e compositor, hoje com 69 anos, chegou ao local com uma convicção ainda maior que há duas décadas, quando cruzou cercas, usou inclusive o mesmo casaco e mesma boina e atravessou os mesmos campos para chegar ao ponto específico. Há cerca de 15 dias, mais uma vez a convite do Diário, vivenciou uma experiência que rendeu pés molhados e relatos inundados de orgulho em comprovar onde fica o local mais central do Rio Grande do Sul: uma localidade privada no Arenal, no distrito de Passo do Verde, em Santa Maria, a cerca de 300 metros da BR-392.
Foi a curiosidade, o respeito à história e a insistência na busca da boa informação que levaram Sosa – que inclusive mantém um programa sobre cultura regional e latino-americana há 23 anos pela Rádio Imenbuí –, a certificar a alcunha de Coração do Rio Grande, bastante conhecida, mas um tanto contraditória. Ainda no início dos anos 1990, na gestão do prefeito Evandro Behr, o jornalista teve a responsabilidade de fazer a Cartilha Histórica e Turística de Santa Maria para a Secretaria de Educação e Secretaria Extraordinária de Interior. Quando pesquisava sobre o distrito de Santa Flora, deparou com uma pesquisa que, ao longo de um ano, tinha levantado dados a partir de coordenadas geográficas que definiam o centro do Rio Grande do Sul. O trabalho era encampado pela acadêmica Mirian Terezinha Mundt, do curso de Geografia da Universidade Federal de Santa Maria (USFM), sob a orientação do professor argentino José Aguirre. Anos antes de ir ao local para eternizar a foto da primeira capa do Diário em 19 de junho de 2002, Sosa acompanhou as medições topográficas com o professor.
– Aguirre era coordenador do Centro de cartografia e fotometria. Ele me levou quando fez as medições do local. Anos depois, com aval do Centro de Ciências Rurais da UFSM, o ponto central do Estado, entrou para o mapa oficial do município – lembra Sosa.
O coração permanece

Muda o mundo, mas não mudam os pontos geográficos. Na primeira capa do Diário, o ponto central ficava entre duas pequenas lagoas, perto de um matagal. Hoje, está rodeado de pastagem, gado e ovelha. Naquele 2002, o salário mínimo girava em torno dos R$ 200 e o Real, moeda que veio para conter a inflação, completava oito anos de existência. O presidente da República era Fernando Henrique Cardoso. O Estado era governado por Olívio Dutra, e no município, Valdeci Oliveira ocupava o cargo do Executivo. Mudaram economia, os cargos, mas não o Coração do Rio Grande, que embora não tenha nenhuma homenagem concreta e e simbólica, tem endereço certo com centro geográfico exato: longitude média de 53°46’02, 01 a oeste, e latitude média 29°51,06, 48 ao sul. No sistema de coordenadas UTM (Universal Transversa de Mercator) correspondem 232599,969m a leste e 6694510,6 m do fuso 22. Em linha reta está a 18.687,69m da Praça Saldanha Marinho.
– Ainda não temos um marco deste local. Talvez por desinteresse administrativo ou falta de vontade política, sempre carecemos dessa demarcação. Em São Paulo, por exemplo, o obelisco marca o centro daquele Estado. Mas o fato é que foi por causa do registro do Diário que nós estamos aqui de novo. Ninguém fez nada. Não fosse a imprensa, não teríamos nada para lembrar, e essa edição é, por enquanto, tudo o que nos resta: registros da história que são investigados e divulgados pelo jornalismo – finaliza Sosa.
Fim da controvérsia
Embora o primeiro projeto que propôs um local para o coração seja datado de 1955, foi a pesquisa científica que corroborou o ponto exato. Na década de 1950, a 3ª Divisão de Infantaria do Exército (3ª DE) havia sugerido uma área onde hoje fica localizado o Colégio Militar. O trabalho dos militares não foi contestado até, pelo menos, 1989 na monografia da então acadêmica de Geografia da Universidade Federal de Santa (UFSM) Mirian Terezinha Mundt. A pesquisa chegou ficar esquecida até meados dos anos 1990, quando a localização exata foi definida pelo professor José Aguirre. O Instituto de Planejamento de Santa Maria (Iplan) corrobora a credibilidade da pesquisa da UFSM.
Denzel Valiente, [email protected]
Pâmela Rubin Matge, [email protected]