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Construção do Viaduto Evandro Behr desperta a memória de quem fez parte da obra

Construção do Viaduto Evandro Behr desperta a memória de quem fez parte da obra

Foto: Arquivo Pessoal (Julio Rasquin)

À esquerda, o ex-prefeito Evandro Behr, de terno e gravata; à direita, o engenheiro Julio Rasquin, também de terno e gravata

​A reportagem publicada na última semana sobre a história do Viaduto Evandro Behr trouxe à tona lembranças daqueles que participaram ativamente da construção, iniciada em 1991. Entre recordações técnicas e momentos inusitados, o engenheiro Julio Rasquin e o então vice-prefeito Luiz Carlos Druzian compartilharam detalhes que ajudam a compreender os desafios e decisões por trás do projeto que transformou o centro de Santa Maria.


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Planejamento e desafios antes de sair do papel

Foto: Arquivo Pessoal (Julio Rasquin)

O engenheiro Julio Rasquin, que integrava a Secretaria de Planejamento, relembra que o projeto surgiu de um impasse no entorno da Praça Saldanha Marinho. Para encontrar soluções, a equipe visitou Curitiba, onde analisou obras semelhantes e realizou estudos para viabilizar a construção em Santa Maria.


Segundo ele, a obra seguiu uma lógica diferente da adotada em Curitiba. Lá, havia um projeto parecido, mas, em Santa Maria, foi necessário fechar a Rua Alberto Pasqualini e criar uma parada e um corredor de ônibus. Enquanto na capital paranaense, os carros tinham prioridade, aqui a proposta era beneficiar os pedestres, permitindo sua passagem em nível superior, enquanto veículos e ônibus circulavam por baixo. 


– Concluímos que era essencial essa ligação entre o Calçadão e a Praça Saldanha Marinho, garantindo que o pedestre passasse em nível e os veículos fizessem o esforço de atravessar o viaduto – relembra Rasquin.


A implantação da estrutura veio acompanhada de mudanças no trânsito da cidade. Uma delas foi a instalação de uma sinaleira na esquina da Rua Pinheiro Machado, permitindo que os carros passassem à frente dos ônibus, medida posteriormente replicada na esquina da Rua Niederauer com a Serafim Valandro. Essas adaptações contribuíram para a criação da Rua 24 Horas na Alberto Pasqualini, um espaço financiado pela iniciativa privada e baseado também em um projeto de sucesso em Curitiba.


No mesmo período, outras intervenções surgiram, incluindo investimentos culturais.

– A parte cultural foi o entorno que se fez todo o restauro, o projeto e começamos a implantação e a execução do Theatro Treze de Maio. Lá na Presidente Vargas, a biblioteca municipal. E para complementar o estudo do viaduto, foi criado o corredor de ônibus – acrescenta Rasquin.

Vice-prefeito à época, Luiz Carlos Druzian acompanhou de perto a construção do viadutoFoto: Rian Lacerda (Diário)

O então vice-prefeito Luiz Carlos Druzian, 91 anos, destaca que a administração contava com uma equipe formada, em grande parte, por técnicos e especialistas, o que garantiu um planejamento mais estruturado.


– O Evandro sempre dizia: "Não se planeja para menos de 20 anos. Tu sempre pensa mais do que 20 anos ". Então, o planejamento era esse, não só essa obra, várias outras que estavam no papel e muitas delas não foram concretizadas por causa do projeto Norte-Sul. 


Lutas políticas e mudanças no projeto original

Foto: Adalto Schuster (Reprodução)

Como muitas obras públicas, o Viaduto Evandro Behr enfrentou paralisações judiciais e debates políticos. Por outro lado, contou com o forte apoio do Fórum das Entidades Empresariais, que, após avaliar a proposta, manifestou-se favorável a sua viabilização. No entanto, ao longo do processo, a construção sofreu interrupções que afetaram seu andamento. Segundo Rasquin, algumas decisões vinham de Porto Alegre, o que atrasava o cronograma.


– Era um vai e volta de documentos e recursos no tribunal. Mas conseguimos manter a execução dentro do planejado – lembra.


O projeto original previa uma intervenção ainda maior, como recorda Druzian.


– O viaduto deveria começar em frente à Catedral, na Venâncio Aires, e não onde foi construído. O plano inicial previa uma passagem subterrânea começando antes, com uma passarela sobre a Venâncio. Mas, devido a intervenções políticas e judiciais, tivemos que reduzir o projeto – explica.


Além dos desafios técnicos e burocráticos, a obra enfrentou limitações financeiras, pois a administração da época não tinha acesso facilitado a empréstimos e financiamentos.


– Tudo foi feito com recursos próprios. Em quatro anos de gestão, não pegamos um único empréstimo. Mas, com as paralisações, a obra acabou encarecendo – relata o ex-vice-prefeito.


Um novo centro em Santa Maria foi estudado

Diante das curiosidades que a obra revela, um fato pouco conhecido é que, na época, foi estudada a criação de um novo centro na cidade. Rasquin relembra que Evandro Behr chamou um antigo ministro para avaliar a área central de Santa Maria. Após diversas conversas, a conclusão foi de que a melhor solução seria construir um novo centro urbano em outro ponto da cidade. Então, Evandro chamou um engenheiro civil para ajudar a planejar o futuro de Santa Maria. Tratava-se de Cloraldino Soares Severo, de Uruguaiana e que havia sido ministro dos Transportes entre 1982 até março de 1985.


– Evandro pediu que eu o acompanhasse enquanto trabalhava na cidade. Passei dias percorrendo Santa Maria ao lado dele, discutindo ideias sobre desenvolvimento industrial e sugerindo aspectos que eu conhecia, já que havia sido vereador várias vezes. Ao final desse período, Cloraldino anunciou que havia concluído seu estudo e disse que voltaria para sua cidade para elaborar um relatório, que seria enviado ao prefeito. Quando o documento chegou, Evandro me perguntou minha opinião. Respondi que ele compartilhava a mesma visão que eu tinha:
a necessidade de um novo centro em Santa Maria – relembra Rasquin.


– Pouco depois, Evandro abriu o relatório e confirmou que a proposta era a criação desse novo centro. A área escolhida ficava onde hoje está a sede do Clube Recreativo Dores, entre a UFSM e o centro da cidade. Na época, o local era apenas “mato”, mas estrategicamente situado. O objetivo era aliviar a sobrecarga do centro tradicional, porque as ruas estreitas e a infraestrutura limitada dificultavam a expansão.

Rasquin  frisou, ainda, que a Secretaria de Planejamento contava com uma equipe qualificada de engenheiros e arquitetos, responsável por diversos projetos de qualidade. E o viaduto foi concebido com o objetivo de proporcionar conforto e segurança aos pedestres, integrando o Calçadão à Praça Saldanha Marinho, além de melhorar a ligação viária Norte-Sul da cidade.


Um legado que resiste ao tempo

Na foto a Rua Dr. BozanoFoto: Reprodução

A reportagem questionou o sentimento dos dois representantes da administração na época de ter feito parte do projeto, execução e entrega da obra. E, como hoje é passar pelo viaduto. A resposta de Julio Rasquin é de dever cumprido. 


– Ainda encontro pessoas que dizem:
"Se não fosse essa ligação, como seria Santa Maria hoje?". Isso me emociona, porque foi um trabalho árduo, enfrentando muitos desafios, mas essencial para a mobilidade da cidade. Isso realmente é o sentimento de dever cumprido, né? Eu sou engenheiro civil, eu já participei, como secretário de planejamento do Evandro Bher, eu já dediquei uma parte da minha vida ao serviço público e quando você vê um resultado como esse e que o dinheiro público foi bem investido. Nós estamos falando aqui já de 34 anos e ainda é uma realidade e funciona e a cidade está felizmente ligada no sentido norte sul – finaliza. 


O
ex-vice-prefeito também lembra que o projeto fazia parte de um planejamento mais amplo para Santa Maria.


– O Evandro pensava a cidade para o futuro. Chegamos a trazer um especialista, que projetou um novo centro para Santa Maria. Mas muitas dessas ideias não saíram do papel. 
A estrutura viária atual nasceu daquele período. Infelizmente, o planejamento não teve continuidade. Mas o viaduto está aí, e cada vez que passo por ele, lembro do esforço de toda a equipe que trabalhou para isso acontecer – conclui Druzian.



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imagem Rian Lacerda

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Rian Lacerda

rian.lacerda@diariosm.com.br

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