
O que é mais prejudicial para uma criança ou adolescente? Conviver com os conflitos constantes dos pais ou lidar com a separação e uma possível ausência de um deles? No programa Faz Sentido do último domingo, 16 de julho, a jornalista Fabiana Sparremberger convidou os psicólogos Diógenes Chaves e Aline Dantas para uma conversa relacionada às consequências dos conflitos familiares para crianças e adolescentes.
Mudanças
Segundo dados da Agência Brasil, o ano de 2021 foi marcado pela marca de 80 mil e 573 divórcios no país, o que significa um aumento de 4% em relação a 2020. Com base nesses dados, Fabiana trouxe a seguinte questão aos convidados: afinal, por que a separação está cada vez mais comum e quais os reflexos disso no desenvolvimento infanto-juvenil?
De acordo com o Diógenes, entre as causas de tantas separações nas últimas décadas está o aumento de casos de ansiedade e depressão. Junto a isso, a estrutura familiar mudou bastante e evidenciou alguns conflitos:
– Muitos homens ainda tem o pensamento conservador de serem os únicos provedores do lar. Não estão preparados para o fato de as mulheres começarem a entrar para o mercado de trabalho e dividir essa função da família.
Para muitas mulheres, essa transição de papéis proporcionou diversas conquistas, mas também as sobrecarregou. Fabiana questiona se essa reorganização seria realmente motivo para a crise familiar:
– Por não terem outra forma de se sustentar, as nossas avós, muitas vezes, se sujeitavam a uma série de situações degradantes e as crianças conviviam com aquilo. Antigamente, não era uma crise, mas pergunto: não era mesmo? Por que agora, a entrada das mulheres no mercado de trabalho seria o problema?
Conforme Aline, nos dias atuais, as mulheres não precisam mais esconder ou seguir imposições sociais:
– Hoje, temos acesso à informação e também aprendemos a nos impor, diferentemente do que acontecia com as nossas avós, que não tinham voz ativa. A crise atual deve-se muito pela sobrecarga, muitas vezes, colocada apenas sobre a mãe.
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E os filhos?
Ainda segundo a psicóloga, alguns casais permanecem juntos na esperança de que os filhos “salvem” o casamento. Diógenes acrescenta que, em muitas situações de separação, as crianças ficam expostas a outro problema: a alienação parental:
– O prejuízo emocional é intenso quando um dos pais induz a criança ou o adolescente a formar uma opinião, que não é dele, em relação à mãe, por exemplo. O diálogo sincero com filhos é fundamental.
Decisão
Mas como ajudar? Existem maneiras de amenizar o sofrimento dos filhos na separação? Qual a recomendação para os casais que estão na eminência do divórcio? Segundo Fabiana, quando o divórcio torna-se a melhor opção, a decisão pode ser uma demonstração de amor para todos.
Diógenes lembra a importância da terapia familiar para todos os envolvidos:
– O acompanhamento psicológico ajuda a entender o que é melhor para ambas as partes. Talvez, em alguns casos, o divórcio seja a melhor solução para a família.
Aline recomenda dois livros: “Quando os pais se separam”, da autora Emily Menendez-Aponte, e “Lá e aqui”, da autora Carolina Moreyra:
– Essas obras podem ajudar casais com criança pequena, que estão pensando no assunto ou já tomaram a decisão.
Diógenes lembra que cada caso tem as próprias especificidades.
– É fundamental, na medida do possível, é claro, preservar os filhos dos conflitos comuns a essa fase de separação – conclui ele.