
O laboratório NB3 de Neuroimunologia, da Universidade Federal de Santa Maria (Ufsm), será o primeiro do interior do Estado a realizar pesquisas com cepas vivas do coronavírus. A manipulação do microrganismo classificado como de risco três será possível gracas ao nível de contenção do espaço, que é considerado um dos mais altos no quadro. O novo laboratório deve ser inaugurado na segunda quinzena de agosto deste ano.
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Importância
Com investimento de mais de R$ 700 mil, o laboratório está localizado no prédio 15 B, sendo compartilhado pelos departamentos de Farmacologia e de Microbiologia e Parasitologia da instituição. Os recursos são oriundos do Ministério da Educação, da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapergs) e da Ufsm. O laboratório também conta com a mediação do SouDefesa, do qual Carlos Costabeber é presidente.
A professora e pesquisadora Micheli Mainardi Pillat, 36 anos, que está a frente do projeto, afirma que esta será a primeira vez que pesquisadores de Santa Maria e região terão a possibilidade de fazer pesquisas com microrganismos vivos de nível três. Atualmente, a instituição desenvolve pesquisas em laboratórios de níveis um e dois.
As pesquisas devem começar com três cepas do coronavírus: a original, de Wuhan; a variante brasileira, P1 e a Ômicron. Os materiais serão enviados pela Universidade de São Paulo (USP) no estado de solução e em pequenos frascos. O transporte deve levar em torno de 24 horas, segundo a professora.
–A expectativa é muito grande, porque já estamos a dois anos traçando este caminho para conseguirmos inaugurar e implantar este laboratório. Até momento, conseguíamos fazer poucas pesquisas com coronavírus, especificamente que é nosso foco, em Santa Maria sem esta estrutura. Tínhamos que nos deslocar até Porto Alegre para fazer colaborações com a Puc para conseguirmos realizar todas as pesquisas que almejávamos e que focam especificamente em descobrir novos alvos para o tratamento do novo coronavírus – afirma Micheli.
Entre acadêmicos, mestrandos, doutorandos, funcionários e professores, 25 pessoas irão atuar e desenvolver pesquisas neste espaço. Uma delas é a biomédica e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas (PPGCF), Jéssica Dotto de Lara, 25. A expectativa para o inicio das pesquisas no local também é comentada pela biomédica:
–É muito bom poder participar de um grupo de pesquisa que vai ter essa oportunidade. Esse é o primeiro laboratório NB3 do interior do Estado. Então, as expectativas são bem altas e eu sou bem contente.

Biossegurança
Para trabalhar com microrganismos, laboratórios precisam atender a requisitos de segurança com base no nível de contenção determinado. As características do nível três prevem a adotação de boas práticas junto com aplicação de barreiras físicas primárias como cabine de segurança biológica e equipamentos de proteção individual, e secundárias, que envolvem o desenho e construção de uma estrutura especial. Um dos diferenciais do laboratório da UFSM está relacionado a ventilação do local. Em uma hora, o ar no local é filtrado 27 vezes.
Micheli reforça que o laboratório NB3 tem tecnologia de elevado nível de biossegurança, o que significa que há filtros de controle de pressão que permitirão trabalhar de forma segura, sem oferecer risco para aos pesquisadores, ao meio ambiente ou a comunidade.
–Ele tem um pressão negativa interna, duas anticâmaras e todo ar que sai do laboratório passa por filtros que esterilizam 100%. Além disso, dispomos de equipamentos especializados para o laboratório – explica a professora.
Dentro do laboratório, será necessário controle rígido durante a operação, inspeção e manutenção das instalações e equipamentos, assim como treinamento específico para a equipe sobre procedimentos de segurança, etapa já concluída pela equipe.
Conforme a Micheli, as pesquisas no local serão realizadas em, no mínimo, duas pessoas, possibilitando o manuseio de microrganismos classificados dentro do nível. São eles: o coronavírus, o vírus da imunodeficiência humana (HIV), da tuberculose, cepas da Influenza como H1N1 e H3N2, entre outros para os quais há vacina ou tratamento.
No Rio Grande do Sul, apenas a Pontifícia Universidade Católica (PUC) e o Laboratório Central de Saúde Pública do Estado (Lacen) do Centro Estadual de Vigilância em Saúde contam com laboratórios NB3. A professora Micheli ressalta que não há laboratórios nível quatro, ou seja, de contenção máxima no país.

Arianne Lima – [email protected]