Em pleno Dia da Mulher, uma mulher foi barrada e não pôde entrar no Hospital Geral do Exército em Santa Maria porque estava usando vestido na altura dos joelhos. A visitante, que preferiu não ser identificada, contou que há 9 anos vai até o hospital, mas que nesta terça, acabou sendo barrada porque não sabia de uma mudança nas regras. Segundo ela, um guarda a abordou e informou que ela precisava seguir as regras que estavam afixadas em um cartaz. No papel, estava escrito que não é permitida a entrada de pessoas com chinelos, bermudas e saias.
- Eu me senti em 1950, no século passado. É absurdo. Me senti discriminada. É um machismo total. Acho que o hospital precisa reavaliar essa regra - afirmou.
Já para pensionistas e usuários, o hospital havia enviado um e-mail, no dia 8 de fevereiro, em que informava o motivo da mudança das regras. No texto, o hospital informa que recebeu uma ordem solicitando informar os veteranos e pensionistas que "o uso de roupas sumárias, como shorts, saias curtas, roupas transparentes, bermudas, camisetas, trajes de banho, chinelos e calçados abertos não é apropriado para o acesso ao Hospital".
Consultada pelo Diário, a advogada Luiza Mota criticou a medida:
- Um hospital que ainda cobra sobre as vestimentas de seus visitantes, tanto femininas quanto masculinas, precisa rever os seus conceitos dentro de uma sociedade igualitária e em conformidade com a sociedade atual. Ou seja, existem diversas formas de se evitar infecções e de contribuir para um ambiente saudável dentro da esfera hospitalar, que não meramente a imposição de códigos de vestimentas segregadores. Na realidade, a suposta indicação de avisos sobre vestimentas, a abordagem vai se dar em relação às mulheres, que são constantemente desmerecidas e humilhadas. Ou seja, a culpa é da mulher, que não leu a indicação ou o aviso. A culpa é da mulher que não vestiu uma saia abaixo do joelho, a culpa é da mulher que mostra o corpo. São estratégias de controle social que não podem ocorrer na sociedade, ainda mais sob o âmbito hospitalar.
A advogada Deborá Evangelista, que é também apresentadora do programa Jogo de Cintura, na TV Diário e Rádio CDN, diz que esse tipo de atitude por parte do hospital é inaceitável:
- Conquistamos muitos direitos, mas ainda falta muito para que a gente tenha igualdade de gênero dentro da nossa sociedade, que é machista e discriminatória. Mas tem direitos que a gente já conseguiu, e um deles é usar a roupa que a gente quiser. É o direito sobre o nosso corpo. Se eu quiser usar uma saia curta, eu uso a roupa que eu bem quero. A recomendação deste ou daquele lugar de usar vestimentas diferenciadas não pode me impedir o exercício da cidadania. É inadmissível, que em 2022, no Dia da Mulher, a gente tenha de lembrar que temos direitos sobre o nosso corpo.
O Exército Brasileiro enviou a seguinte nota em resposta ao caso:
"O Hospital Geral de Santa Maria (HGeSM) está dentro da estrutura organizacional militar do Exército Brasileiro, uma Organização Militar que funciona na área de saúde para prestar assistência médico-hospitalar de qualidade à família militar. Nesse contexto, o Exército possui normas próprias quanto aos trajes permitidos para acesso a suas instalações, que devem ser seguidas de acordo com as orientações contidas no Ofício nº 598/SA 2.2 - Circular, de 06 de março de 1997, do Chefe de Gabinete do Ministério do Exército, em vigor, que estabelecem o seguinte:
'? Recomendações, a serem observadas por servidores, usuários ou visitantes das Organizações militares: a. Fica terminantemente proibido o ingresso de pessoas nesses locais usando trajes incompatíveis com esses locais (tais como bermudas, calções, camisetas do tipo regata, chinelo etc.)'.
Além disso, destaca-se que, em um ambiente hospitalar, onde há grande circulação de pessoas acometidas por variadas doenças, é fundamental que haja redução de exposição da pele tanto dos integrantes do Hospital quanto de pacientes, acompanhantes ou visitantes, prevenindo-se, assim, a transmissão e o contágio por doenças infecciosas e primando-se pela saúde de todos.
Nesse sentido, campanhas de informação ao público alvo (acompanhante, visitante e usuário) foram desenvolvidas por intermédio de mídias sociais, endereço eletrônico público do Hospital (aviso da página da internet em anexo) e documento enviado a todas as organizações militares atendidas, visando-se dar ampla divulgação aos militares, veteranos, pensionistas e dependentes, com a finalidade de obter condutas compatíveis e adequadas ao ambiente hospitalar.
O Hospital Geral de Santa Maria dispõe, também, de placas com orientações (foto anexa), perfeitamente visíveis nas entradas destinadas ao público, que merecem atenção. Alertam sobre a proibição de entrada usando roupas sumárias, como shorts, saias curtas, roupas transparentes, bermudas, camisetas, trajes de banho, chinelos e outros.
Quanto ao atendimento de urgência/emergência ao usuário que comparecer apresentando risco físico e mental de saúde, não há interferência nesse sentido, pois é a missão precípua do HGeSM a de salvar vidas.
Por fim, ressalta-se que o Hospital dispõe de Ouvidoria, que é um canal de comunicação entre o beneficiário e o HGeSM e tem a função de receber, examinar e encaminhar aos setores competentes todas as sugestões, reclamações, elogios ou denúncias que sejam enviadas, pessoalmente ou através do e-mail para: [email protected]."