
Foto: Prefeitura de Bogotá (Divulgação)
Inspirada no programa Linha Calma, de Bogotá, na Colômbia, a deputada estadual Delegada Nadine (PSDB) defende a aprovação de seu projeto de lei para criar o Programa Estadual de Linha de Conversa com Homens – Linha Calma. A iniciativa tem como objetivo promover a escuta ativa, a orientação psicossocial e a prevenção da reincidência de violência doméstica e familiar contra a mulher, com foco na cultura de paz. Na prática, se a proposta for aprovada, seria criada uma espécie de telefone 0800 para atender homens que têm dificuldades de lidar com as emoções e com conflitos familiares, com o machismo e até com ciúmes excessivos. Ao ajudar esses homens a aprenderem a lidar com as próprias emoções e a se aproximar da companheira e dos filhos, ideia é agir de forma preventiva para tentar evitar casos de violência doméstica e de gênero.
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Em entrevista à Rádio CDN, Nadine comentou que, em mais de 20 anos como delegada da Polícia Civil, presenciou inúmeros casos de feminicídios e agressões em que os homens se achavam donos das mulheres, tendo ouvido dos agressores frases como “Se ela não for mais minha, não será de ninguém”, indicando que o homem se considerava proprietário da mulher.
A delegada também reforça que os homens costumam ser mais fechados e têm dificuldades em procurar tratamento ou ajuda. Por esse receio em se abrir com um amigo ou parente para desabafar uma angústia ou problema, eles passariam a ter esse apoio podendo ligar para um telefone, em que vão conversar de forma totalmente sigilosa com psicólogos ou atendentes preparados. Nadine diz que em Bogotá, na Bolívia, essa Linha Calma já existe há alguns anos e ajudou a reduzir os feminicídios e os casos de violência doméstica.
Voltado ao atendimento sigiloso e humanizado dedicado integralmente aos homens, o programa prevê que seja criado suporte por meio de número telefônico estadual, aplicativo e plataforma digital, com funcionamento 24 horas por dia. Se a proposta for aprovada, os atendimentos serão realizados por profissionais capacitados nas áreas de psicologia, assistência social e direitos humanos, com apoio de equipe multidisciplinar.
– O enfrentamento à violência contra a mulher precisa ser feito de forma integral. A Linha Calma propõe ações que atuam na raiz do problema, buscando transformar padrões culturais e comportamentais que perpetuam o machismo e a violência de gênero – diz a deputada Nadine.
Além da escuta profissional, os usuários poderão ser enviados para atendimentos psicológicos, jurídicos ou sociais, e incentivados a participar de grupos reflexivos. O programa prevê parcerias com universidades, centros de pesquisa e organizações da sociedade civil para qualificação constante. A proposta ainda determina que as informações estatísticas geradas pelo programa sejam compartilhadas com órgãos de defesa da mulher, como Centros de Referência e Delegacias Especializadas.
Segundo ela, o projeto é uma resposta à escalada da violência de gênero no Estado.
– Só no último feriado de Páscoa, o Rio Grande do Sul registrou 10 feminicídios em apenas três dias. Em 2025, já são 30 feminicídios no Estado. E tem crescido os casos em que o homem mata o filho e se mata para atingir a mulher. Ou seja, ele também está precisando de ajuda. Precisamos agir com firmeza e antecipação para salvar vidas – diz.
Escola para homem aprender a cuidar da casa e dos filhos
Em Bogotá, na Colômbia, além do telefone para atendimento aos homens desabafarem em casos de angústia, depressão, ansiedade e outras situações que podem acabar virando em violência doméstica, foi criada uma Escola de Cuidados para Homens, em que eles têm aulas para aprender a trocar fraldas, passar pomadas para tratar assaduras e até fazer penteados e rabos de cavalo estilizados em bonecas e manequins – para depois poderem fazer nas filhas. Em aulas mais longas, de até oito horas, os homens aprendem a lavar louça, a passar roupas e a limpar banheiros. O objetivo dessa escola é incentivá-los a deixar o machismo de lado e aprenderem a dividirem as tarefas com as companheiras, além de se aproximarem dos filhos.
Essa escola surgiu em Bogotá a partir da pandemia de Covid-19, quando muitas mães acabaram morrendo, e seus companheiros começaram a pedir ajuda porque não estavam preparados para cuidar do filhos, gerando muita angústia. O projeto seguiu com o objetivo de reduzir o machismo, quebrando o pré-conceito ainda existente em muitos lares de que homens não poderiam cuidar da casa e dos filhos.
Em entrevista a um jornal da Colômbia, um padeiro e artista de 31 anos, que procurou ajuda do programa “antimachista”, admitiu: “Eu estava me tornando o machão que nunca quis ser. Como fiquei preocupado de estar sentindo aquele ciúme típico de um homem tóxico, liguei para a Linha Calma e a Diana, uma psicóloga, me disse que ciúme é normal, que todos sentimos, e que o importante é saber como processá-lo.”
Só punir não resolve
Punir quem comete agressões contra mulheres e filhos, além de casos de feminicídios, é fundamental. Inclusive, as penas foram elevadas nos últimos anos. Porém, não vai trazer de volta as vítimas. Além disso, há muitos casos de homens que são presos e, depois de soltos, voltam a cometer as mesmas barbaridades com outras mulheres. Por isso, programas para escutar e orientar homens com potencial de violência, além de obrigar a se tratar, é importantíssimo para prevenir crimes graves como os feminicídios e de violência doméstica.