
Foto: Vinícius Machado (Diário)
Os bloqueios de Pare e Siga na BR-158, entre Santa Maria e Itaara, têm testado a paciência dos motoristas, principalmente de quem usa a rodovia diariamente. Apesar dos transtornos, que ainda vão se estender pelos próximos meses, é por um bom motivo: estão sendo feitas obras de contenção de encostas para evitar que a rodovia fique totalmente bloqueada, como ocorreu nas enchentes de maio de 2024, quando o tráfego em um dos principais corredores de exportação do Estado ficou trancado por semanas. Operários estão em vários pontos da rodovia para um investimento nunca antes feito aqui na região. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) está investindo R$ 226 milhões em obras de limpeza e contenção de encostas em 25 pontos com risco de deslizamentos na BR-158, em Santa Maria e Itaara, e também na BR-287, em São Pedro do Sul, Jaguari e Santiago. A título de comparação, só nessas obras de prevenção, que devem durar um ano, será gasto o equivalente à metade de toda a obra de duplicação da Travessia Urbana, que em 10 anos, consumiu R$ 450 milhões.
Construções gigantes
O Diário foi até o local para mostrar o que está sendo feito e obteve com o Dnit os números do que está sendo construído – e eles impressionam. A extensão total das obras de contenção na BR-287 e BR-158 é de aproximadamente 6.220 metros, com alturas variando entre 3 e 40 metros. Serão utilizadas 325 toneladas de aço, 3.178 metros cúbicos de concreto, 133.445 metros de tirantes de aço (barras grossas de aço que são cravadas na rocha para fixar as paredes de contenção) e 44.938 metros quadrados de telas de aço para proteção dos taludes. Além disso, serão necessários 44.938 metros quadrados de tela para a construção do muro de gabião (isso equivale a cinco hectares ou à área de mais de cinco campos de futebol).
Um morador de Itaara comentou que não entende o que está sendo feito. Na realidade, como os morros às margens da BR-158, na subida da serra, têm uma mistura de pedras rachadas com solo e árvores, quando chove forte ou por muitos dias seguidos, aumenta o risco de esse solo encharcar e acabar deslizando, como ocorreu em setembro de 2023 e maio de 2024, quando a rodovia ficou bloqueada. Para evitar que isso ocorra novamente, o Dnit mapeou 18 pontos da estrada, em Santa Maria e Itaara, que oferecem risco de árvores, terra e pedras voltarem a deslizar. Em quatro desses locais, já há operários que estão fazendo a limpeza e remoção desse solo, além da retirada de árvores e de toda vegetação que apresenta risco de queda sobre a rodovia. Além de máquinas adequadas, é preciso que alguns operários façam rapel no topo do morro para fazer esses serviços em segurança. E é por isso que em alguns pontos, é preciso bloquear uma das pistas e fazer trânsito em Pare e Siga, para evitar que algum material atinja os veículos que estão passando. Na quinta-feira, os bloqueios temporários estavam sendo feitos perto do viaduto da Garganta do Diabo. Com essa limpeza desses trechos dos morros, só ficam nesses pontos as rochas que estão estáveis, sem risco de desabar. Porém, só isso não basta. Para garantir segurança e evitar futuros deslizamentos, em cada ponto é adotada uma solução de engenharia mais adequada a cada situação.
O Dnit informa que os serviços previstos para os segmentos em obras incluem solo grampeado (espécie de parede de concreto com grampos de fixação para evitar deslizamentos), faceamento com tela metálica de alta resistência (é instalada uma tela nas paredes de pedras, para evitar a queda de rochas), revestimento em biomanta e manta antierosiva (tela de proteção que firma o solo e permite que cresça grama, evitando a erosão), além da implementação de muro gabião (muro de tela de aço com pedras dentro) e cortina atirantada (muro de concreto com tirantes de aço cravados na rocha para fixação e evitar o deslizamento).
Enquanto máquinas e operários fazem a remoção de solo e de vegetação, outros usam grandes máquinas perfuratrizes que fazem furos de até 10 metros de profundidade na parede de rochas, cravando tirantes (barras de ferro de até 10 metros de comprimento e 4 cm de diâmetro) e os concretando. Para injetar o concreto, são instaladas mangueiras plásticas, que fazem com que o material entre na área mais profunda da rocha. Em alguns locais, é instalado um tirante desses a cada metro de distância, para que a barreira de contenção de tela ou concreto não tenha risco de desabar. Ou seja, mesmo que chova muito forte, evita-se o perigo de um deslizamento. Para proteger uma área equivalente a cinco campos de futebol das encostas em obras, serão milhares desses furo e milhares de tirantes, totalizando 133 km de grossas barras de ferro. Por conta dessa complexidade e da quantidade de materiais é que serão gastos R$ 226 milhões nos 25 pontos que serão protegidos. Até o momento, foram gastos R$ 10,8 milhões, segundo o Dnit.
Trilhos
Além disso, ao longo da subida entre Santa Maria e Itaara, as antigas cortinas de contenção que usam cercas com trilhos para evitar que pedras caiam na rodovia serão trocadas por estruturas novas. Até porque, em vários pontos, esses trilhos já haviam caído e não garantiam mais a proteção dos veículos contra as quedas de barreiras.
Previsão de conclusão
Segundo o Dnit, a conclusão das obras está prevista para dezembro de 2025. Porém, devido à complexidade e ao tamanho das encostas, é provável que os trabalhos avancem durante o ano de 2026. Durante esse período, sempre que houver necessidade de mobilização de maquinário, remoção de material ou qualquer outra atividade que represente risco aos usuários da rodovia, serão realizados bloqueios parciais e, em alguns casos, totais no trecho em obras.
De acordo com o Dnit, essas interrupções são essenciais para garantir a segurança, já que há risco de deslizamento de solo e rochas. Além disso, para orientar os motoristas, foi reforçada a sinalização ao longo de todo o trecho entre Santa Maria e Itaara. A velocidade máxima permitida foi reduzida de 40 km/h para 30 km/h. As medidas de bloqueio parcial, liberação de fluxo e cronograma das obras são constantemente avaliadas e definidas em conjunto com a Polícia Rodoviária Federal (PRF). Ou seja, ao longo dos próximos meses, os motoristas terão de enfrentar filas por conta de bloqueios parciais ou totais na rodovia. Dependendo da fase das obras, os trabalhos até poderão ser feitos sem interferir no trânsito em alguns pontos.
As filas acabam sendo mais longas por conta do bloqueio da Estrada do Perau, que liga Santa Maria a Itaara e está bloqueada desde maio de 2024, quando houve um grande deslizamento em um trecho da via. A prefeitura de Santa Maria reforçou o bloqueio em maio porque muitos motoristas estavam desrespeitando as placas de proibido passar. Não há previsão de quando a recuperação da Estrada do Perau vai começar nem de quando a via será liberada.