Nessa semana ficou nítido a repercussão e a importância de valorizarmos a prevenção quando falamos de saúde de idosos. Há cerca de 2 meses vimos a repercussão na mídia da queda que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sofreu na própria residência - algo muito corriqueiro entre os idosos e frequentemente negligenciado pela sociedade, cuidadores e gestores de saúde.
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Essa semana - quase 2 meses depois - o presidente Lula foi vítima de uma das maiores complicações de uma queda e geradoras de risco de perda de vida se não houver o pronto diagnóstico e intervenção terapêutica: hematoma cerebral. Inclusive sabemos pela comunicação da presidência que o presidente será submetido a um segundo procedimento – a embolização – com vistas bloquear o fluxo sanguíneo e impedir a formação de novos hematomas.
As quedas são uma das principais causa de mortalidade e morbidade entre os idosos. Segundo a Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) cerca de 29% dos idosos caem ao menos uma vez ao ano e 13% caem de forma recorrente. Em 2013, 4.816 idosos morreram vítimas de queda da própria altura. Já em 2022, esse número saltou para 9.592 óbitos. Considerada a terceira causa de mortalidade entre as pessoas com mais de 65 anos, as quedas mataram 70.516 idosos, entre 2013 e 2022, no país.
Quedas podem levar a fraturas, traumatismos cranianos e outros problemas graves afetando qualidade de vida e o risco de outras complicações. Quem não conhece um familiar ou próximo que tenha sido vítima de uma fratura de quadril por queda doméstica da própria altura e após isso sofreu complicações cirúrgicas e outras? Aqui então, mais uma vez, é importante gerar informação para prevenção.
Causas e dicas de prevenção
Quedas podem parecer simples, mas nos idosos os riscos são bem mais altos. Além das complicações clínicas, as quedas representam custo social, econômico e psicológico para as pessoas idosas e famílias.
O envelhecimento pode enfraquecer músculos e reflexos, o que aumenta o risco de queda. Sem contar a osteoporose, comumente afetando essa população. Aqui, cuidar do corpo e do ambiente faz toda a diferença na prevenção.
De modo geral, prevenir quedas passam por 3 medidas importantes: fortalecimento muscular com atividade física regular, adequação de ambientes – retirada de tapetes soltos, melhora da iluminação, barras de acessibilidade - e acompanhamento médico frequente para cuidado de situações clínicas desencadeantes.
Segue orientações da SBOT de como evitar quedas com idosos:
- Evite tapetes soltos;
- As escadas e corredores devem ter corrimão dos dois lados;
- Use sapatos fechados e com solados de borracha;
- Coloque tapete antiderrapante nos banheiros;
- Evite andar em áreas com piso úmido;
- Evite encerar a casa;
- Evite móveis e objetos espalhados pela casa;
- Deixe uma luz acesa à noite, caso você se levante;
- Espere que o ônibus pare completamente para você subir ou descer;
- Coloque o telefone em local acessível;
- Utilize sempre a faixa de pedestres;
- Se necessário, use bengalas, muletas ou instrumentos de apoio.
Política Nacional de Prevenção Controle do Câncer (PNPCC)
Na coluna anterior em face do mês da Consciência Negra e a necessária discussão em torno dos dados de saúde da população e a equidade no cuidado, eu citei a importância da efetiva implantação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN).
Hoje quero lembrar de outro fundamental regramento sanitário nacional aprovado e que ainda carece de regulamentação e efetiva implantação: a Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer (PNPCC).
Sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em dezembro de 2023. No dia 18 de junho de 2024, completaram-se os 180 dias determinados pelo texto da Lei no 14.758/2023 para que a PNPCC entrasse em vigor.
Diagnóstico tardio e perda de vidas
Entre os objetivos da política estão a redução da incidência de câncer, a garantia do acesso adequado e rápido ao tratamento, a melhoria da qualidade de vida dos pacientes com câncer e a redução da mortalidade pela doença. Ou seja, visa cobrir todos os pontos da linha de cuidado do câncer.
Desafio ainda longe de ser alcançado. Hoje um paciente que inicia um processo de investigação de um câncer pelo Sistema Único de Saúde (SUS) demora cerca de 120 dias até confirmação diagnóstica. Muitos desses são admitidos já com doença avançada em um serviço de Oncologia - tomam muito tempo no acesso a exames complementares exigidos na avaliação do estágio do câncer e na programação terapêutica - e nem chegam a receber tratamento, são considerados pacientes em cuidados paliativos e muitos logo evoluem para a morte.
Hoje mais de 60% das pessoas descobrem o câncer em fase avançada. Esse cenário mostra que esses indivíduos estão fazendo o diagnóstico tardio. É fundamental que a sociedade civil e os profissionais de saúde cobrem a efetiva execução da política para o câncer, que deve priorizar o diagnóstico precoce.
Acesso a novos tratamentos e equidade
Outro grave problema no que se refere ao cuidado do câncer é a iniquidade, a assimetria entre a saúde complementar e o sistema público no que se refere a incorporação tecnológica e acesso a novos tratamentos.
Em recente entrevista dada ao canal Medscape durante o XXV Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica, a Dra. Luciana Holtz, fundadora e presidente do Oncoguia, afirma que “há uma falta de equidade entre os centros, ou seja, o mesmo tratamento não é oferecido equanimemente em todos os lugares, o que causa uma defasagem nos tratamentos. Está cada vez maior a distância entre a tecnologia ofertada na saúde suplementar e a disponibilizada no SUS”.
Na próxima coluna posso aprofundar pouco mais sobre sugestões e estratégias de gestão que poderia minimizar ou mesmo fazer se cumprir a lei para reduzir a eterna fila de espera.