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Relacionamentos abusivos

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No momento atual, além da divulgação de campanhas de estímulo ao distanciamento social, para combate ao coronavírus, outra campanha vem ganhando destaque na mídia que é a "Quarentena sem violência", uma vez que o isolamento pode tornar o espaço doméstico mais perigoso, contribuindo para que os relacionamentos abusivos sejam potencializados e menos socializados.

Segundo os registros da ONU e do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, nesse período de quarentena houve agravamento da violência doméstica contra a mulher e abuso infantil, com um aumento de 17% no registro de denúncias. Infelizmente, o distanciamento acaba por contribuir com o abuso, pois, o principal remédio para identificá-lo ou combatê-lo é o convívio social. Tal convívio não apenas oportuniza a busca de socorro, como possibilita a identificação, por terceiros, da violência, principalmente quando se trata de crianças.

A interação com outras pessoas também auxilia o abusado na identificação do tipo de violência, até porque o abuso pode passar bem longe da agressão física, por isso não ser identificado. O abuso pode existir em qualquer relacionamento e muitas vezes estar camuflado numa atitude de ciúmes, superproteção, chantagem emocional ou fragilidade que, por não serem violentas, podem não parecer danosas.

As campanhas contra a violência buscam não apenas incentivar o compartilhamento das relações abusivas, como disponibilizando profissionais capacitados para auxiliarem na identificação e superação daquelas, mostrando que qualquer relacionamento que anule a liberdade do outro ou que crie uma relação de dependência, pode ser potencialmente abusiva. De regra, o abusador aproveita o medo, a responsabilidade, a culpa ou o remorso para forçar o outro a ceder a sua vontade. Trata-se de uma relação de poder que as campanhas contra a violência, apesar do isolamento, buscam ajudar a romper e superar, mostrando que qualquer relacionamento que pretenda controlar, aprisionar ou modificar o outro, sempre será nociva.

Muito apropriado para reflexão daqueles que de alguma forma se encontram numa relação tóxica, abusador ou o abusado, é a história de Rubem Alves, de uma menina e um pássaro encantado que se apaixonaram. O pássaro voava para longe e voltava sempre, contando histórias de onde passou. Sofrendo com as constantes partidas do amado, a menina resolveu prendê-lo. Engaiolado, o pássaro mudou. Perdeu as cores nas asas; ficou sem canto. A menina também se entristeceu e acabou por abrir a gaiola. O pássaro agradeceu e partiu, e ela passou a ver o mundo como um lugar encantado. Começou a se enfeitar e a se fazer bela, sempre à espera de um reencontro.

A moral dessa história é sabedoria imprescindível aos amantes, apaixonados, casados e namorados; aos pais e aos filhos, aos avós, netos, amigos, patrões e empregados. Afinal, ela ilustra uma verdade defendida pelo escritor Rubem Alves: "Não há amor que resista à perda da liberdade. Se não houver liberdade, não existe possibilidade que o amor dure."

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