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Pinheiro Machado comigo, nas Arcadas!

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Caminho pelas Arcadas da velha e sempre nova Academia do Largo de São Francisco e cruzo com José Gomes Pinheiro Machado. Um sujeito formidável que aqui estudou e se formou em 1878! Como o passado não existe e há para sempre o agora, cá nos reencontramos! Bah tchê! - digo-lhe -, tu fostes mesmo o condestável da República! E ele então sorri para mim, de verdade.

Nascemos perto um do outro, ele em Cruz Alta, eu em Santa Maria. Cá está ao meu lado, apesar de ter sido covardemente apunhalado pelas costas, em setembro de 1915, por um tal de Manso de Paiva, no saguão do Hotel dos Estrangeiros, no Rio de Janeiro. Foi-se para o Céu, mas - já que somos múltiplos - agora caminhamos juntos sob as Arcadas e mostro-lhe um livro escrito por Hermes da Fonseca Filho, Pinheiro Machado, que trago em minha pasta.

Sentamo-nos em um banco e o tomamos nas mãos. Trocamos então ideias para além do que diz o livro. Em torno do seu apoio à candidatura do marechal Hermes da Fonseca à Presidência da República, em oposição a Ruy Barbosa. Eleição felizmente vencida pelo marechal, pai do autor deste livro! Eu a lembrar que há histórias muito estranhas em torno do advogado -não do político - Ruy Barbosa, que também se formou, em 1870, na velha e sempre nova Academia do Largo de São Francisco.

Mais, lembrei que ele agora junto a mim auxiliara Hermes da Fonseca, o pai, de tal modo que, no dia em que deixou o Palácio do Catete, Hermes disse a seu sucessor, Venceslau Brás: "Olha Venceslau, o Pinheiro é tão bom amigo que chega a governar pela gente!".

Divertimo-nos com o livro em nossas mãos, escrito por Hermes da Fonseca Filho. Tão bom que peço licença para relembrar trechos que nos fizeram sorrir, dizendo que ele tinha uma vida inteira de relevantíssimos serviços prestados ao país. Um homem de bem, um nobre patriota. Apenas os infinitos azuis do horizonte afetavam seus mais doces sonhos, embalados nas lendas dos pampas.

E linhas mais adiante, quase ao final do que escreveu em mais de duzentas páginas, afirma que "Pinheiro não era um homem de gestos feios; sua moral - que só mesmo caolhos imbecis não viam - era uma questão de elegância, como a elegância era uma questão de vida. Nós, que tivemos a máxima honra de sua amizade, conhecemo-lo nesta deslumbrante elegância serena que - dia virá! - o imortalizará no bronze".

Sorrimos um para o outro e - de repente me dou conta do presente, de verdade - ele me pediu que relembrasse trechos do meu passado. Perdi-me no tempo, ele então pegou minha mão e pediu-me serenidade, pois um dia estaremos novamente juntos. Um dia voltaremos a nos ver, lá em cima!

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