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Durante alguns anos, tivemos uma turma de futebol 7 no Avenida Tênis Clube. As partidas ocorriam todos os sábados à tarde. Éramos em torno de 40 associados que integravam o grupo. Como só podiam jogar 18 (14 na linha e quatro para revezar), os primeiros que iam chegando colocavam o nome numa lista e garantiam, assim, a "titularidade". Ninguém queria ficar de fora. Garantir presença no jogo era motivo de comemoração. Quem chegava atrasado lamentava o resto do dia e dava como perdido o final de semana.
As partidas, originalmente, começavam às 15h30min. Porém, o pessoal foi chegando cada vez mais cedo para garantir vaga, mas tão cedo que lá pelas 12h30min o quórum já estava fechado e, por causa disso, os jogos passaram a ter início às 13h. Alguns, para não correr qualquer tipo de risco, adotaram uma tática: começaram a almoçar no ATC. Chegavam às 11h30min no Clube, pediam uma torrada no Bar dos Sarrafos e, imediatamente, colocavam o nome na lista, com a sensação de alívio e dever cumprido.
E foi no transcorrer desses jogos que se forjou o maior zagueiro da história do ATC. Era o veterano da turma. Jogava no meio da gurizada sem se intimidar. Na hora da divisão das equipes, tinha o "passe" valorizado. Todos o queriam no seu time. Com ele na defesa era difícil levar gol. Sua especialidade era distribuir carrinhos (lance em que o jogador se atira no chão, projetando as pernas à frente). Era um zagueiro raiz. Zagueiro que chegava chegando. Nunca perdeu uma "viagem". Alguma coisa sempre pegava pelo caminho. Optava, preferencialmente, por retirar a bola de forma lisa do adversário. Mas se o plano A falhasse, o plano B entrava em ação e o adversário rapidamente sentia o gosto da grama. Ainda caído, de lambuja, ouvia uma mijada: "te levanta guri!".
No entanto, a melhor jogada era quando aplicava, simultaneamente, o plano A e o plano B. Daí era lindo de se ver. Levava por diante bola, jogador e o que mais aparecesse pela frente. Jogador driblador nunca se criou perto dele, e centroavante passava fome. Para quem não o viu jogar, eu exemplifico. Era um misto de Figueroa com Kannemann. A técnica não era necessariamente o seu forte, mas compensava de outras formas. Tinha boa bola aérea, visão de jogo, liderança e se dedicava aos lances tal qual um faminto diante de um xis burguer completo. Era um patrão na sua área. Um síndico das quatro linhas. Com igual intensidade marcava os adversários e gritava com os companheiros.
Pois esse zagueiro, que impunha respeito e apreensão aos atacantes, recentemente completou oito décadas de vida. Muitos vão se recordar dele como ex-reitor da nossa UFSM. No entanto, para nós do grupo do futebol, ele é lembrado como uma lenda na profissão de zagueiro. E se era um leão pra jogar, Clóvis Lima, carinhosamente chamado na turma de "Véio Lima", do lado de fora do campo era e é um cavalheiro. Divertido, bem humorado, inteligente e amigo dos amigos. Pessoa querida pra se conviver.
Em tempos de distanciamento social não pôde receber o abraço dos amigos. Então, sinta-se abraçado por aqui. Em breve, por certo, nos reencontraremos para relembrar velhas e boas histórias. E aos atuais atacantes que desfilam lépidos e faceiros pelos campos do ATC, digo-lhes: agradeçam e aproveitem por não terem o Véio Lima pela frente. A não ser que ele resolva calçar as chuteiras, distribuir carrinhos e mostrar, novamente, que é impossível bola e adversário cruzarem, ao mesmo tempo, pelo maior zagueiro da história do ATC.