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No dia 17 de maio de 1990 a Organização Mundial de Saúde/OMS retirou o homossexualismo (na medicina, o sufixo "ismo" refere-se a doença) da Classificação Internacional de Doenças (CID). Desde então, passou a se chamar homossexualidade, no plural, no sentido de se referir a comportamentos e multiplicidades da ordem do desejo afetivo. Trinta anos se passaram e o mundo deveria ter aprendido que homossexualidade não tem cura porque não se trata de uma doença. Entretanto, em pleno 2020, ainda ouvimos o termo "cura gay" no Brasil.
Infelizmente, temos muito pouco a comemorar num país onde a política nacional LGBT está sob a responsabilidade de um Ministério que é chefiado por uma pastora que limita, inclusive, as cores para o feminino e masculino, num gesto explícito de negação da diversidade existente nesse país.
Algumas conquistas ocorreram no âmbito do judiciário como a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo e a mudança de nome de pessoas trans, adquiridas após muitos debates e luta do movimento LGBT brasileiro. Apesar desses progressos, praticamente 100% das pesquisas apontam que essa população continua enfrentando violências nos ambientes doméstico, escolar, trabalho e nos mais diferentes espaços públicos. Dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) e da Transrespect revelam que, entre 2008 e 2017, foram reportados 1.052 assassinatos de pessoas trans no Brasil (40% do total mundial). Estima-se, ainda, que a expectativa de vida atual de pessoas trans seja de 35 anos, enquanto para o restante da população é de 74 anos. Então, nós sabemos quem o Estado está deixando morrer e quem, realmente, é tratado como sujeito político desse mesmo Estado.
Aliás, falando em mortes, Santa Maria assistiu no final de 2019 e início de 2020 a cinco bárbaros assassinatos de travestis em nossas vias públicas. Apesar dos movimentos de alerta para as cenas que demonstraram claramente a LGBTfobia existente em nossa sociedade, algumas pessoas naturalizam a violência nos corpos trans.
O GT LGBTI+ da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva) ao celebrar os 30 anos da despatologização da homossexualidade pela OMS, lançou nota revelando que o silêncio da mídia e da sociedade brasileira sobre essas populações durante a pandemia da Covid-19 é uma evidência de sua persistente invisibilidade social. O posicionamento dessa instituição chama a atenção da sociedade e das autoridades no sentido de que gênero e orientação sexual precisam ser levados em consideração, no âmbito da política pública, e no combate à pandemia. A Organização das Nações Unidas (ONU), alertou recentemente que a crise global causada pelo novo coronavírus está exacerbando as dificuldades da população LGBT.
Para se chegar até o ponto que nos encontramos nessa pandemia, negaram-se algumas evidências científicas, subverteram a ideia de saúde pública e retiraram-se os recursos do SUS, deixando a maior parte da população desassistida. E embora o cenário seja de caos, a pressão pelo fim do isolamento em prol da "economia", feita sob a mira de uma metralhadora, obriga grande parte da população a sair às ruas. Nesse sentido, qualquer um que ocupe um cargo importante e que possa questionar mesmo que minimamente o fim do isolamento (como foi o caso do Teich), não terá espaço neste (des)governo.
Lembrando que o óbvio muitas vezes precisa ser dito, reforço que não se escolhe nascer LGBT e, portanto, não é uma opção. Se você ainda tem preconceito, a informação correta é um excelente remédio. Homossexualidade não tem cura, mas homofobia sim.